Introdução
Num país onde o volume de apostas online ultrapassa, anualmente, os mil milhões de euros, percebe-se o interesse grande neste mundo que combina dinheiro com o desporto. Para entender melhor a história da indústria e do mercado das apostas desportivas, temos de voltar atrás ao séc. XVIII.
No Reino Unido, um dos desportos mais comuns e apreciados pela aristocracia era a corrida de cavalos e foi nesta modalidade que as apostas desportivas começaram a ganhar força. Os donos das estalagens e dos conhecidos “pubs” foram os primeiros “bookies” da era moderna das apostas desportivas.
Em 1845, viria a ser criado o primeiro regulamento sobre as apostas com o chamado “Gambling Act”, forçando a que fossem criadas casas oficiais de apostas. Ao contrário do que se passava anteriormente, o bookie não apostaria contra o cliente e serviria apenas como intermediário.
Logo em seguida, outros países anglófonos seguiriam o exemplo britânico com o destaque do basebol nos Estados Unidos da América.
As corridas de cavalos tiveram o seu auge, juntamente com as apostas, na segunda década do século XX no país da liberdade. As apostas eram não só vistas com o objetivo de trazer lucro ao apostador, mas também de entreter o mesmo. Era fácil de encontrar cidadãos norte-americanos a apostar no basebol por valores consideravelmente baixos, com as casas a oferecerem dezenas de opções para as suas apostas.
Escândalo e Popularidade
E foi neste período que surgiu um dos maiores escândalos de “match fixing” relacionado às apostas desportivas: o “Black Sox Scandal” que envolveu apostadores dispostos a pagar a certos jogadores dos Chicago White Sox para perderem as finais nacionais de basebol em 1919. Mesmo assim, a popularidade do desporto e das apostas só continuava a aumentar com os americanos a verem as apostas desportivas como algo positivo. Essa mesma popularidade iria estender-se para outros desportos tais como o boxe, o basquetebol e o futebol americano.
Já os portugueses só viriam a descobrir sobre este mundo através do “Totobola” em 1961, criado pela Santa Casa da Misericórdia. A simplicidade das apostas, os prémios atrativos e a paixão pelo desporto foram responsáveis pelo sucesso da indústria no país.
O aparecimento das apostas online
“Mas, afinal de contas, onde é que aparecerem as apostas online no meio disto tudo? “
A primeira aposta online foi feita no início dos anos 70(1972) no Canadá e foi lá que surgiu o primeiro regime de licenciamento global (1996), mas o boom só viria a surgir nos anos 90. O motivo para este boom está ligado ao boom tecnológico e ao crescimento da Internet globalmente. Só em 1998, a indústria das apostas desportivas gerou mais de 800 milhões de dólares.
Isto levou a um grande investimento por parte das casas de apostas no mundo cibernético com boa parte dos bookies a serem fundados na última década do século XX e no início deste século. Como exemplos, temos a Pinnacle Sports (1998), Bet365(2001), Bwin (2001), Unibet (1998), William Hill (2001), etc.
Com a globalização e a tecnologia, o aumento de apostadores e de casas de apostas foi exponencial, ao ponto de haver casas de apostas em todos os continentes e que permitem aos apostadores apostar em qualquer altura do dia.
Com a criação dos smartphones, o mundo das apostas viria a dar mais um passo para a sua popularidade com as próprias casas a investirem em aplicações focadas no apostador casual.
A criação de regulamentos, o investimento nos patrocínios, a criação de linhas de apoio aos clientes e a abolição dos monopólios foram extremamente importantes para o aumento de apostadores e do volume de apostas nos últimos 20 anos.
Marketing desportivo
Com o objetivo de aumentarem ainda mais os seus lucros, as casas de apostas começaram a investir ainda mais em marketing, especialmente na Internet e nas próprias modalidades desportivas. É cada vez mais comum assistirmos um jogo de futebol ou de outra modalidade em que uma das equipas é patrocinada por uma bookie. O Real Madrid, por exemplo, chegou a receber mais de 20 milhões de euros por época pelo patrocínio da Bwin nos seus equipamentos.
Outros exemplos válidos são o da Bwin que foi o patrocinador oficial da 1ª divisão portuguesa de futebol profissional durante vários anos da primeira década deste século ou da 1xBet com a Série A italiana.
Bodog(West Bromwich), Betclic(Olympique de Marseille), Genting(Aston Villa), Mansion(Tottenham/Manchester City), 12Bet(Wigan) são outros exemplos presentes na história do futebol e das apostas. Estamos a falar de uma indústria cujo o fluxo financeiro ultrapassa os 500 mil milhões de dólares anualmente, com várias partes interessadas em deter uma parte do bolo.
Regulamentação
Como resultado desta popularidade, os Estados nacionais decidiram entrar em ação e criar regulamentos para os jogos de azar. Estes regulamentos visam proteger os apostadores e os investidores de casas de apostas pouco íntegras, viabilizar economicamente os clubes, promover o jogo responsável e garantir outra forma de arrecadação fiscal. Durante anos numa espécie de “grey área” (área cinzenta), as apostas desportivas foram alvo da primeira regulamentação em Portugal no ano de 2015 através do decreto-lei nº64.
No entanto, as primeiras casas de apostas online para os apostadores portugueses poderem apostar legalmente só viriam a surgir no ano seguinte. Até à 1ª licença ter sido dada (sendo que a primeira foi a Betclic), houve um monopólio na indústria dos jogos de azar/fortuna por parte da Santa Casa da Misericórdia (SCML) com o “Placard”.
Em Espanha, o processo de regulamentação dos jogos de azar já tinha iniciado em 2011, com a primeira casa de apostas a ser legalizada no país de “nuestros hermanos” a ser a reconhecida casa de apostas britânica Bet365. A França passou a ter regulamentos em 2010, depois da LPF (liga profissional francesa) ter proibido os clubes das duas principais divisões de futebol profissional de serem patrocinadas por casas de apostas em 2006. No Reino Unido, já existiam leis ligadas às apostas desportivas desde 1960 devido à enorme popularidade das apostas nas terras de sua Majestade.
Atualidade
Nos tempos de hoje, as apostas desportivas tornaram-se uma forma de lazer para muitos adultos e com isso são reforçados pontos positivos e também negativos deste mundo. A simplicidade de uma aposta, a possibilidade de gerar dinheiro a partir de um computador ou smartphone, a criação de aplicações móveis, a enorme variedade de bónus para novos apostadores ou eventos específicos, a união da paixão de um desporto com a possibilidade de obter valores monetários consideráveis são apenas algumas das características positivas ligadas ao universo das apostas.
Por outro lado, são diversas as críticas às entidades exploradoras e aos jogadores por motivos diferentes. Desde a possibilidade do vício destruir a vida dos apostadores e das pessoas que os rodeiam até às visões religiosas sobre o jogo, o que não falta são críticas de todas as partes. Ainda assim, essas críticas não foram capazes de parar o aumento da popularidade das apostas, com os potenciais apostadores a serem cada vez mais seduzidos com as propostas das entidades exploradoras através das publicidades.
É muito fácil olharmos para um jogo de uma das principais ligas de futebol mundial e depararmo-nos com um patrocínio ou publicidade de uma casa de apostas. Só no Brasil, o mercado potencial deste setor está acima dos 6,5 mil milhões de reais, um valor elevado o suficiente para o Estado brasileiro já estar a planear a primeira regulamentação sobre os jogos de azar/fortuna no território.
Uma das maiores casas de apostas no mundo, a Betfair, movimenta dezenas de milhões de euros por dia só em apostas, imaginemos nós por mês ou por ano.
Infelizmente, nem todas as casas de apostas de sucesso estão legalizadas nos países que foram alvo de regulamentações nesta última década. Em Portugal, existem apenas 6 casas de apostas online legalizadas, originando um problema de oferta de casas de apostas cujo a demanda não para de crescer. Betfair, Bet365, Ladbrokes, Pinnacle, 1xBet, etc. estão ilegalizadas em território luso.
Concluindo, a popularidade das apostas nunca parou de aumentar pelo mundo inteiro, com cada vez mais países dispostos a regulamentar o jogo de forma a possibilitar um jogo responsável e seguro.